segunda-feira, 19 de março de 2012

CURSO DE BIOLOGIA UFMT


1.      TEXTO PARA ESTUDO -PRÓXIMA AULA SEXTA DIA 23 DE MARÇO 2012. ESSE ESTUDO PRETENDE MOSTRAR COMO A FILOSOFIA TEVE PARTICIPAÇÃO NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DAS CIÊNCIAS.
A passagem do pensamento mítico para o filosófico-científico
Os diferentes povos da Antiguidade – assírios e babilônios chineses e indianos, egípcios, persas e hebreus –, todos tiveram visões próprias da natureza e maneiras diversas de explicar os fenômenos e processos naturais. Só os gregos, entretanto, fizeram ciência, e é na cultura grega que podemos identificar o princípio deste tipo de pensamento que podemos denominar, nesta sua fase inicial, de filosófico-científico.
O pensamento mítico consiste em uma forma pela qual um povo explica aspectos essenciais da realidade em que vive: a origem do mundo, o funcionamento da natureza e dos processos naturais e as origens deste povo, bem como seus valores básicos. O mito caracteriza-se, sobretudo pelo modo como estas explicações são dadas, ou seja, pelo tipo de discurso (fictício ou imaginário) que constitui.
As lendas e narrativas míticas não são produto de um autor ou autores, mas parte da tradição cultural e folclórica de um povo. O mito é, portanto, essencialmente fruto de uma tradição cultural e não da elaboração de um determinado indivíduo.
Por ser parte de uma tradição cultural, o mito configura assim a própria visão de mundo dos indivíduos, a sua maneira mesmo de vivenciar esta realidade. O mito não se justifica, não se fundamenta, portanto, nem se presta ao questionamento ou à crítica. Ou o indivíduo é parte dessa cultura e aceita o mito como visão do mundo, ou não pertence a ela e, nesse caso, o mito não faz sentido para ele. Um dos elementos centrais do pensamento mítico e de sua forma de explicar a realidade é o apelo ao sobrenatural, ao mistério, ao sagrado, à magia.
É Aristóteles que afirma ser Tales de Mileto o iniciador do pensamento filosófico-científico. Podemos considerar que este pensamento nasce basicamente de uma insatisfação com o tipo de explicação do real que encontramos no pensamento mítico. É nesse sentido que a tentativa dos primeiros filósofos da escola jônica foi buscar uma explicação do mundo natural baseada essencialmente em causas naturais, o que consiste no assim chamado naturalismo da escola. A chave da explicação do mundo de nossa experiência estaria então, para esses pensadores, no próprio mundo, e não fora dele.
É significativo que Tales de Mileto seja considerado o primeiro filósofo e que o pensamento filosófico tenha surgido não nas cidades do continente grego como Atenas, mas nas colônias gregas do Mediterrâneo oriental, no mar Jônico. Nessas cidades conviviam diferentes culturas, e de forma harmoniosa, pois o interesse comercial fazia com que os povos que aí se encontravam, fossem bastante tolerantes. É possível, assim, que a influência de diferentes tradições míticas tenha levado à relativização dos mitos. O caráter global, absoluto, da explicação mítica teria se enfraquecido no confronto entre diferentes mitos e tradições. 
 2.      Noções fundamentais do pensamento filosófico-científico 
Ø  A physis
O objetivo de investigação dos primeiros filósofos-cientistas é o mundo natural; sendo que suas teorias buscam dar uma explicação causal dos processos e dos fenômenos naturais a partir de causas puramente naturais, isto é, encontráveis na natureza, no mundo concreto e não no divino como nas explicações míticas. 
Ø  A causalidade
Explicar é relacionar um efeito a uma causa que o antecede e o determina. Explicar é, portanto, reconstruir o nexo causal existente entre os fenômenos da natureza, é tomar um fenômeno como efeito de uma causa. O que distingue a explicação filosófica-científica da mítica é a referência apenas a causas naturais.
A explicação causal possui, entretanto, um caráter regressivo. Ou seja, explicamos sempre uma coisa por outra e há assim a possibilidade de se ir buscando uma causa anterior, mais básica, até o infinito. 
Ø  A arqué (elemento primordial)
A fim de evitar a regressão ao infinito da explicação causal, esses filósofos postularam a existência de um elemento primordial que serviria de ponto de partida para todo o processo. Tales foi o primeiro a formular essa noção, afirmava ele ser a água (hydor) o elemento primordial. Porém, o importante na contribuição de Tales não é a escolha da água, mas a própria idéia de elemento primordial.
A importância da noção de arqué está exatamente na tentativa por parte desses filósofos de apresentar uma explicação da realidade em um sentido mais profundo, tal princípio daria precisamente o caráter geral a esse tipo de explicação, permitindo considerá-la como inaugurando a ciência.  
Ø  O cosmo
O cosmo é o mundo natural, bem como o espaço celeste, enquanto realidade ordenada de acordo com certos princípios racionais. O cosmo, entendido assim como ordem, opõe-se ao caos (kaos), que seria precisamente a falta de ordem. É importante notar que a ordem do cosmo é uma ordem racional, é a racionalidade deste mundo que o torna compreensível, por sua vez, ao entendimento humano. 
Ø  O logos
O logos significa discurso, mas ele difere fundamentalmente do mythos, a narrativa de caráter poético que recorre aos deuses e ao mistério na descrição do real. O logos é fundamentalmente uma explicação, em que razões são dadas. É nesse sentido que o discurso dos primeiros filósofos é um logos
Ø  O caráter crítico
As teorias formuladas pelos primeiros filósofos não eram de forma dogmática, não eram apresentadas como verdades absolutas e definitivas, mas como passíveis de serem discutidas, de suscitarem divergências e discordância.
ALGUMAS ANOTAÇÕES SOBRE A CAUSA PRIMEIRA, A MATÉRIA E A FILOSOFIA DA NATUREZA EM ARISTÓTELES. 2 MATÉRIA – AQUILO QUE SUBJAZ
2.1Duvidar é dar início a busca ao saber. Quando se questiona, o indivíduo se coloca a frente do objeto e nesta relação constrói o conhecimento.Como disse Vilém Flusser[1], "a dúvida é o pretexto, i. é, o que antecede e motiva a construção do saber científico. É Ela que nos motiva a transitar entre os estados da certeza, indo de uma concepção a outra sobre o mesmo tema. Em dose moderada a dúvida estimula o pensamento".Questionar certos conceitos é submeter-se ao crivo da dúvida e através dela percorrer até a construção do conhecimento o descobrimento do significado daquilo que se busca.
2.2A dificuldade de construir este trabalho parte inclusive da dúvida de interpretação dos textos de Aristóteles, mas, não nos deixa de confortar menos ao verificarmos que ele também percorreu vários caminhos de dúvidas procurando estabelecer um crivo de dúvidas e compreender o significado daquilo que sempre subjaz. A primeira dúvida de Aristóteles ao foi procurar entender o que havia sempre, ou seja, o que subjaz.
2.3Aquilo que sempre permanecia era o substrato do universo, ou seja, aquela parte primeira do qual o universo se produz, aquilo do qual as coisas são feitas e de onde tudo se origina tudo aquilo que é criado permanece e consigo traz algo que embora haja transformações mantém imanente.Deveria haver algo a partir do qual todas as coisas são criadas. O que estaria subjacente a tudo o que existe neste mundo?Então, algo subjaz.
2.4Esta idéia de que algo subjaz ao longo de todas as transformações que ocorrem na natureza, nasceu primeiramente com os filósofos Jônicos. Eles foram os que trouxeram a lume a noção de que durante todo o processo de evolução ou transformação da natureza algo permanecia. Mas, foi Aristóteles que contextualizou este entendimento e deu nome a isto de Matéria. Então de toda a dúvida do que subjaz, nasceu o conceito Aristotélico de que era a Matéria, o que permanecia ao longo de todas as transformações.
2.5Este conceito de Matéria nasce em Aristóteles e percorre todo o período filosófico até Descarte sofrendo forte declínio conceitual com a Filosofia Contemporânea.Embora Aristóteles tenha dado ênfase ao conceito de matéria, foi Santo Tomas de Aquino que deu a sua roupagem necessária trazendo-a para o núcleo das discussões filosóficas.
2.6Para Aristóteles a Matéria seria algo indeterminado que se determina ao receber uma forma. E esta forma é aquilo que atualiza a matéria.As coisas são conhecidas então, através da atualização de suas potencialidades, e isto se descobre através do entendimento de suas causas.
2.7E sobre a Matéria a Filosofia de Aristóteles vai percorrer muito tempo, e derivar para vários outros conceitos em busca de conhecer a origem e a causa das coisas que existem, e a partir do que existem.
2.8Tudo aquilo que existe é formado por partículas que têm extensão, forma e movimento.O movimento dá a idéia de lugar, quantidade e essência. Forma é aquilo que concretiza ou atualiza a matéria. Mais tarde Santo Tomas de Aquino que daria mais relevância e retomaria ao estudo da matéria, vai concluir que a combinação de matéria e forma é o que representa e Essência dos entes materiais[2].
2.9Tomar noção daquilo que sejam os princípios ou causas ou elementos é o caminho do saber e do conhecimento. Ao mesmo tempo conhecer os princípios ou causas dos elementos é levar-se a conhecer a Filosofia da Natureza. Aquilo do qual algo depende para sua produção é chamado de causa da produção. E estas causas ou princípios pelos quais se chega ao conhecimento seriam para Aristóteles, a Causa Material, a Causa Formal, A Causa Eficiente e a Causa Final. Cada qual vai ter sua importância na definição e no conhecimento do objeto.
2.10Antes de discorrermos mais sobre as causas ou princípios é importante separar que as coisas são por natureza enquanto outras o são ou existem por outras causas e não naturalmente.Aquilo que seria por natureza, por exemplo, seriam os animais, as plantas, os seres vivos em geral inclusive os homens.Outrassão a partir da técnica não possuem nenhum impulso inato. Então as coisas são por natureza ou são por alguma criação artificial ou acidental.
2.11Naquilo que é por natureza, esta própria natureza permanece subjacente. "natureza, assim, é isso que foi dito; por sua vez, tem natureza tudo o quanto tem tal princípio. E todas essas coisas são essência: pois são um subjacente, e a natureza reside sempre no subjacente. E são conforme a natureza tais coisas e tudo aquilo que lhes pertence devido a elas mesmas – por exemplo, para o fogo, locomover-se para o alto: pois isto não é natureza , nem tem natureza, mas é por natureza e conforme a natureza".[3]
2.12Ou seja, as coisas que são por natureza têm o tal princípio da natureza e guardam subjacente sua própria essência da natureza, que reside no subjacente. O Fogo movimentar-se para cima, não é a natureza, mas, traz em si um princípio de natureza que o diz para movimentar-se para cima e faz isto conforme a natureza. Então aquilo que é por natureza e conforme a natureza é aquilo que tem como princípio um impulso natural.
2.13Para entender isto, é necessário entender quais seriam os elementos primeiros identificados por Aristóteles. Para Aristóteles os princípios ou elementos são quatros, quais sejam: Terra, Água, fogo e Ar.Mas, antes desta conclusão ele percorreu vários autores, uns que afirmavam que os princípios eram infinitos, outros que eram em tantos outros. Demócrito, por exemplo, entendia que os elementos eram infinitos.
2.14Da mesma forma, Aristóteles procurou identificar quantos seriam os entes. E desta forma, diferencia-se da identificação dos elementos, que seriam tomados a partir da Natureza. Os entes não se examinam a partir da natureza, sob pena de cair-se em contradição silogística.
2.15Aquilo que é por natureza, é suscetível de movimento para Aristóteles[4] e isto se evidencia a partir da indução.O Ente poderia então ser apenas UM.O ente pode ser um Quanto ou um Qual. Um Ente seria o tudo essência, então seria um Quanto, como o homem, o cavalo, a criança. Enquanto um Qual seria o Homem Branco. Este qual é aquilo que Santo Tomas vai identificar como coisas que o são por acidente conforme veremos mais adiante.
2.16Se o ente for limitado então ele será um Quanto. E isto se revela por essência porque não pode haver muitas essências ilimitadas. Porém, se houver essência apenas, o ente não será limitado. Enfim, sendo um Quanto o ente é limitado sendo Qual o ente é ilimitado.
2.17Enfim após muitas discussões e definições, Aristóteles prefere afirmar, que aquilo que é, vem a ser a partir de algo que seja subjacente, ou seja, sempre há aquilo que subjaz. Como a partir do Bronze vem a ser a estátua. E na estátua subjaz o bronze. Mas, isto só não será suficiente para entender o conceito de matéria. O que seria a matéria primeira ou a matéria prima? É a causa primeira de todas as coisas? O que é a causa do bronze? É a potência do bronze. O que é a homem? É a matéria da qual se constituem todos os homens, sem adentrarmos aqui, para limitar o tema, aos conceitos de alma e espírito. Então a matéria prima é pura potência e isto, ou seja, a matéria, somente se atualiza na forma. Depois veremos em Santo Tomás que a matéria prima jamais pode ser conhecida nem definida por ela mesma senão quando atualizada em forma.
2.18Os Entes são por natureza e há causas e princípios a partir dos quais são e vem a ser não segundo a concomitância, mas, segundo a essência[5]. No exemplo de Aristóteles o Homem Culto se constituiu a partir do homem e do culto. Então há sempre algo que subjaz àquilo que vem a ser.Aquilo que é subjacente é um princípio, embora não venha ser nada em específico, ou seja, o princípio subjaz embora não seja um certo isto. O que subjaz ao homem culto é a idéia de homem.
2.19Segundo Aristóteles é impossível que algo venha a ser a partir do não ente. Nem o ente vem a ser, nem nada vem a ser a partir do ente, porque é necessário que algo esteja subjacente, havendo, portanto uma pluralidade de coisas e o próprio ente em si mesmo.As coisas são pela concomitância e também pela privação que é o não ser outra coisa, ou seja, a privação de outra coisa é necessária para que algo seja o que é.
2.20O que subjaz, portanto, como já dito, é a matéria. Aquilo que permanece apesar de todas as transformações é a matéria. Quando a matéria se atualiza através da forma, ela se distingue da privação, porém matéria e privação estão presentes no sujeito do ente e do não ente que é a privação, para as quais, digamos a matéria é comum, porque para ser a partir daquela matéria é preciso que haja a privação do outro ao qual para ser se privou.A Estátua de São Jorge guarda em si a matéria prima, que é o bronze, o ente, e sua privação qual sejam todas as coisas para qual, ao ser um São Jorge ele se privou. A coisa guarda em si, a matéria que subjaz e ao mesmo tempo a privação, ou o não ente.
2.21De outra sorte a matéria se apresenta em forma. Sem a forma a matéria é etérea, ou pura potência. O que realiza a matéria é a forma. A matéria deseja de forma. As coisas somente existem em forma.A forma, não se deseja a si mesmo e sim a matéria que deseja a forma, a matéria em forma é de acordo com a concomitância de matéria e forma.
2.22Então subjaz algo a todas as coisas qual seja a matéria. Esta matéria vai se atualizar através da forma. As coisas vão existir, constituídas de Matéria e Forma.Para isto, será necessário conhecer as causas já mencionadas, material, formal, eficiente e final e tomar noção dos elementos. Conhecer a coisa é identificar tais causas.
3PRINCÍPIO -CAUSAS -ANALOGIA DA MATERIA E DA FORMA
3.1Porém nem todas as coisas dependem de matéria para existir. As coisas que dependem da matéria em seu ser precisam dela para ser definidas, já há outras que não necessitam da matéria para existir. Um Exemplo citado por GARDEIL[6] é de que há coisas que dependem e outras que não da matéria.Ele cita o exemplo do Nariz Achatado, quando o Nariz existe e depender na matéria para sua definição enquanto o achatado não, o mesmo ele exemplifica de Curvo onde a figura "curvo" é algo que somente existe na matéria sensível. Ou como o caso de Deus, que é matéria, forma, causa e substância do seu próprio Ser.O Deus é causa de si mesmo.
3.2Santo Tomás de Aquino, conforme [GARDEIL] vai trabalhar os conceitos de matéria e princípios com maior roupagem e relevância. No Estudo dos Princípios vamos verificar que há coisas que podem ser enquantohá coisas que o são efetivamente[7].O Ser em Potência é aquilo que pode vir a ser, o Ser em Ato, é aquilo que já é.Há o Ser essencial e o ser Acidental. O Ser essencial, é o Homem, por exemplo, já o acidental é o homem branco, onde o Branco o é por acidente.
3.3Aquilo que está em potência no homem branco é o homem. Mas, tanto o que está em potência em um ou em outro pode ser chamado de matéria.Aqui começa uma pequena diferença introduzida por Santo Tomas, qual seja a de identificar a matéria e o sujeito. A matéria é aquilo que está em potência no ser essencial, e o sujeito aquilo que está em potência no ser acidental.Ou seja, o Homem Branco: o Homem tem em si a potência da matéria do qual o homem é feito, já o Homem Branco, tem em si em potência o Sujeito homem.
3.4A forma, portanto coloca o Ser na matéria. Já o acidente não coloca o ser ao sujeito. É o sujeito que coloca o Ser no acidente. Nas palavras de GARDEIL "Segue-se que para falar de termos, a forma dá à matéria o ser, enquanto que o acidente não dá ao ser o sujeito: é o sujeito que o dá ao acidente[8]".A forma pode ser chamada de Ato também, que ocorre quando há um Ser em Ato. O que faz um ser em Ato é a forma substancial e o que faz um ser em acidente é a forma acidental, como no já citado exemplo do Homem Branco.
3.5O que faz a matéria chegar à forma é o movimento de geração. Para a forma acidental ocorre a geração relativa e para a forma substancial ocorre a geração pura e simples. Ou seja, aatualização da matéria vai ocorrer através da Geração pura e simples.
3.6Para tanto é necessário conhecer os 3 tipos de geração. A geração requer a existência de três coisas, quais sejam a matéria, privação e forma. A matéria é um ser em potência, a privação um não ser em ato e a atualização que é a forma.Desta forma, os três princípios identificados por Santo Tomás de Aquino na Natureza serão, matéria forma e privação.A matéria é a necessidade e para o que tende toda a geração enquanto os demais se mantêm lado a lado sempre que ocorre a geração. A matéria e a privação como vimos, vão estar presentes sempre no sujeito visto que para ser o sujeito da geração é preciso que seja ao mesmo tempo a privação do não ser. Enquanto uma figura tem sua forma ao mesmo tempo ela tem a privação de todas as demais formas.
3.7A privação então, embora princípio vá existir por acidente, uma vez que ela não nasce acidentalmente. Os acidentes serão necessários e não necessários. Acidente necessário é aquilo que é próprio da coisa, enquanto não necessário é aquilo que não é necessariamente próprio da coisa. A matéria sempre estará privada de outra forma. A privação também somente ocorre de um Ser determinado. A cegueira, por exemplo, não pode ser atribuída como privação senão daquele que deveria enxergar[9].
3.8O que vai diferenciar Matéria, Forma e Privação é a razão."matéria é, com efeito, aquilo no qual forma e privação são inteligíveis: assim, no cobre a figura e a ausência de figura[10]" . Enquanto o bronze não é um ídolo, podemos entender que não há nele nenhuma privação. Mas, quando fazemos do bronze um ídolo de "São Francisco de Assis", por exemplo, ele tem em si a privação do "São Jorge" e de todos outros ídolos que poderia ser gerados com aquela matéria "bronze".Algumas matérias, entretanto têm em si sua própria composição de forma, como é o caso da farinha do pão, que já tem em si a não ordenação que é oposta a ordenação do pão, visto que a farinha de pão, não tem outra privação a não ser o próprio pão, visto que é o tipo de matéria que contem em si mesmo a sua composição de forma.Já o Bronze, enquanto ainda não gerado nem atualizado em "São Francisco de Assis" já é uma matéria atualizada na forma de bronze.Antes deste estado ele é chamado de matéria primeira. O mesmo vale para a Água, que é matéria primeira de outras composições, mas, já é em forma e, portanto tem sua própria matéria prima que lhe é anterior. Mas, a matéria prima nunca vai ser encontrada destituída de forma e privação, portanto sempre estará em ato, e, portanto em ato nunca será chamada da matéria prima, que será como vimos sempre potência.
3.10É por isto que Matéria, Forma e Privação não serão nunca suficientes para explicar a geração. Vamos precisar entender as causas.O bronze do ídolo precisa de um agente externo para sua geração, já que a forma não guarda em si nenhum mecanismo para transformar a potência da matéria em ato. Vamos entender, portanto as causas, para da qual a geração necessita.Aos poucos vamos percebendo o desenrolar do pensamento de Aristóteles atualizado pelo pensamento de Santo Tomás e, doravante as coisas vão se tornando mais claras, da Matéria, da Forma, da Privação uma Causa eficiente ou algo que provoca o movimento de geração. Vai ser necessário, portanto a causa material, eficiente, formal e final.Qual é a Causa eficiente e a causa final do ídolo?
3.11As causas serão identificadas como há haviam sido por Aristóteles[11] como extrínsecas e intrínsecas. A matéria e a forma, como há de se perceber, são causas extrínsecas a coisa. E como princípio ele havia identificado as causas intrínsecas. Então causas seriam as extrínsecas (matéria e forma) e princípios as causas intrínsecas, e a privação como princípio acidental.Alguma confusão pode ser feita entre causa e princípio, que embora tenham noção comum há uma pequena diferença conceitual. A noção de causa acrescenta alguma coisa comum a de princípio[12].Causa é aquilo ao ser do qual segue outra coisa. O ponto de partida é um princípio e não uma causa. A privação, por exemplo, é um princípio e não uma causa.
3.12Nesta mesma esteira de compreender que Matéria e Forma não são suficientes para a geração, vamos encontrar o ELEMENTO. Vimos lá atrás que Aristóteles após percorrer vários escritos de vários filósofos precedentes entendeu que havia 4 elementos. A explicação é do próprio Aristóteles no livro Delta da Metafísica [metaf.,, c, 3, 1014 a 26], para quem "o elemento é aquilo do qual a coisa é composta primeiro, lhe é imanente e não comporta nenhuma divisão com relação a forma" O elemento portanto é aquilo que permanece e não é corrompido. O elemento do homem então não são os braços. Os braços e as pernas do homem são compostos de outros elementos.Uma definição de elemento como vimos no início são os quatro elemento, Terra, Água, Fogo e Ar, que estariam na composição primeira de todos os outros corpos da natureza. 
3.13Lembrando que como vimos no início as causas para Aristóteles são quatro: formal, material, eficiente e formal. Elas podem dar-se de reciprocamente, o que se chama reciprocidade das causas. Podem estar nos eventos de forma conjunta e recíproca. A causa Final, por exemplo, é a causa principal de todas tendo em visa que é por "isto" que a coisa existe. A Causa da Formal é a matéria e a forma somente existe com a matéria e assim reciprocamente. A Matéria e a Forma, existem assim reciprocamente porque a causa formal e material não podem existir senão no mesmo ato de geração, embora, como se verá adiante, há discussão se a causa formal é primeira ou a material o é.
3.14Ainda elas apresentando-se conjuntamente ou reciprocamente há então que compreender a reciprocidade das causas. "Uma coisa, com efeito, pode ser chamada anterior a um outra na ordem da geração e do tempo, e, além disso, na da substancia e do acabamento"[13].A matéria é tida como causa primeira em todos os eventos de geração. Mas, se a matéria somente se atualiza pela forma, podemos dizer que anteriormente a matéria há a forma. A causa eficiente é anterior a causa final no momento da geração.
3.15Mas vamos encontrar outra coisa que deveria preceder a causa, qual seja a necessidade, que se apresenta em dois tipos. A necessidade absoluta e a necessidade condicional. Aquela que chamamos de absoluta vem antes de todas as causas na geração.A necessidade absoluta é a da matéria que sem a tal nada é gerado. A necessidade condicional seria a forma porque vem depois da causa absoluta e antes das causas precedentes.
3.16As causas podendo ser coincidentes ao mesmo objeto. Por exemplo, a faca tem em si mesmo o eficiente e o fim, que é cortar. A isto se dá o nome de redução das causas que pode ocorrer com a formal, a eficiente e a final. Todas podem estar reduzidas a um mesmo termo, ou seja, podem coincidir. Como no caso do fogo, onde ele é a própria causa eficiente de quem o engendra. E ele pode ao mesmo pode ser causa final na medida em que a operação engendrada termina nele.Neste aspecto a causa final pode estar separada na causa final da geração e na causa final daquilo que foi engendrado, como a faca, cuja causa final pode ser a geração da própria faca e ao mesmo tempo a finalidade de cortar.
3.17As causas ainda vão se manifestar pelo conceito de anterioridade e posterioridade.O exemplo a ser dado é o do médico que cura. O médico é posterior a arte da medicina nesta relação e a arte da medicina é causa anterior ao médico.Observam-se ainda as causa por si e por acidente. Sendo por si aquelas que o são em si mesmo, são causas de si mesmo e explicam-se por si mesmo e a causa acidental aquela que somente existe em conjunto com a causa por si.Um exemplo dado por Gardeil é do construtor que é gramático e constrói uma casa, o gramático é causa acidental da construção porque disto a construção nada depende[14]. Esta causa por si ainda será chamada de causa simples, de par com a causa composta que é a que ocorre quando duas coisas chão chamadas o Ser da Causa, como no caso do Médico Construtor, porque ambos construíram a casa.A causa vai aparecer ainda em ato ou em potência. Em ato é quando ocorre efetivamente de, por exemplo, construir a causa, enquanto em potência conforme já entendemos é o mesmo médico que poderia construir a casa mas, ainda não o faz.
3.18Outras formas de compreender as causas verificar-se-á na analogia da matéria através dos diversos modos de unidade e diversidade, e os modos de atribuição. Algumas coisas são numericamente idênticas como Homem e o Ronaldinho. Mas, pode ocorrer coisas que são numericamente diferentes como Ronaldinho e o Pelé,porém continuam sendo da mesma espécie. Já pode ocorrer coincidirem quanto a gênero mas, diferirem quanto a espécie como Homem e o Asno.As atribuições podem ocorrer em relação a um sujeito de várias maneiras, quais sejam: univocamente, equivocamente e analogamente. Uma coisa é atribuída a um sujeito univocamente quando se faz em por um determinado motivo ou por determinada razão idêntica.Seria o caso de compararmos atribuição de que o Homem e o Asno são animais, porque são seres animados segundo os conceitos filosóficos. A atribuição ocorre de maneira equívoca quando se atribui por razões não idênticas.Pode haver algo que possua a mesma atribuição ou o mesmo nome, mas, isto ocorreu por razões diferentes, como no caso do "Chico" que é o Gato do amigo e "Chico" que é o apelido de Francisco.A Atribuição vai ocorrer analogamente quando para várias coisas se dá um mesmo nome para cada qual por razões diferentes.O Exemplo citado por GARDEIL[15], é a Saúde que é dita na relação com a Urina, na Relação com o Remédio e na relação com o corpo como sujeito dela.
4 CONCLUSÃO
4.1Vimos desde o início com muita dificuldade que Aristóteles ao procurar um caminho para entender a origem de tudo, percebeu que deveria haver algo a dar causa a todas as coisas. Entendeu que havia uma matéria prima que permanecia em todos os movimentos e em todas as gerações, e que essas causas iriam necessitar da Forma para se atualizar e do elemento e ao mesmo tempo do movimento. Aristóteles ensinou que era necessário percorrer desde aquilo que era cognoscível e claro para todos e ao que era por natureza, porque aquilo que era claro por natureza precisaria de uma pesquisa maior para entender os motivos de sua existência. Então ai, vimos que surgiram as idéias de matéria, causa, princípio, movimento, elemento. Na análise mais atualizada de Santo Tomas de Aquino podemos perceber que a Atualização da Matéria precisa de Geração, e que esta geração ocorre de várias matérias, por vários motivos, que se antecedem se precedem que tudo tem uma causa material, uma causa formal, onde uma antecede a outra, uma causa eficiente e uma causa final, e que as causas são coincidentes, são recíprocas e são reduzidas.
4.2Em síntese Aristóteles concebeu a Matéria Prima que nunca é, senão em potência, que se atualiza pela forma e que há tudo dá origem e subjaz. Disciplinou a forma de geração das coisas. Fez isto através da observação daquilo que estava muito claro na natureza e através do olhar à natureza. Santo Tomás de Aquino cuidou de ampliar este conceito de matéria, causa e forma tornando-o mais didático.
"Acredito ter atravessado o rio,
Nadado muito, chegado em último lugar,
Mas a sensação da chegada é a causa final.
A chegada reduz em si mesma a causa eficiente e a causa final".
Francisco de Assis e Silva

segunda-feira, 5 de março de 2012

AOS CALOUROS DA UFMT

SEJAM BEM VINDOS TODOS OS CALOUROS DA UFMT.
QUE NESSE ANO O CONHECIMENTO POSSA SER A ESTRADA PLANA DE SUAS VIDAS,E MESMO COM AS CURVAS QUE ELA POSSA TER SEJAM VENCIDAS COM MUITA GARRA E FORÇA DE VONTADE.