Platão
"A filosofia tem
origem na admiração."
Teeteto
Teeteto
1. INTRODUÇÃO
Quem foi Platão? Qual
o seu verdadeiro nome? Que legado nos deixou? Qual a importância de Sócrates em
sua obra? O que distingue Platão de Aristóteles?
2. DADOS
PESSOAIS
Platão (427-347 a.C.). Filho de Ariston e
Perictione, que pertenciam a uma das mais nobres famílias atenienses. Seu nome
verdadeiro é Aristocles, mas devido a sua constituição física,
recebeu o apelido de Platão, que em grego significa “de ombros
largos”. Discípulo de Sócrates. Depois da morte de seu mestre, empreendeu
várias viagens. Retornou a Atenas, em 387 a.C.Era
íntimo de Dionísio I, tirano de Siracusa. Dizia-se que esperava fundar um
Estado ideal, em Siracusa. Fundou a Academia num bosque de Atenas. A teoria das
ideias, ou como se desenvolve o conhecimento é a pedra angular de sua
filosofia. Dentre as suas obras, destacam-se: A República, As
Leis, O Político.
3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Platão viveu no final do "século
de ouro" da cultura grega, período em que começou a vigorar uma postura
mais crítica e autônoma em relação à tradição. Esse período estava associado ao
aparecimento da democracia – o novo regime político –, em que foi possível
também o surgimento da retórica e da sofística, modos de utilização da palavra
intimamente associados à democracia.
Como todos os outros jovens de sua
época, Platão tinha sido introduzido na retórica. Contudo, teve a oportunidade
de conhecer Sócrates, chamado por ele o "mais sábio homem de sua
época". A morte de Sócrates, de forma injusta, provocou-lhe uma profunda
mudança de concepção. Passou, daí em diante, a escrever os ensinamentos de
Sócrates e a defender a filosofia como sendo a única que poderia salvar a
cidade dos sofistas. Para ele, somente os filósofos eram capazes de conhecer a
verdade, o sumo bem, e, com isso, dirigir corretamente os destinos da cidade,
porque não agiriam em causa própria, mas segundo o interesse geral.
Desiludido pela morte de Sócrates,
Platão deixou Atenas em 399 a.C. e viajou pela Grécia, Egito, sul da Itália e
Sicília. No entanto, por volta de 387 a.C., voltou para a sua cidade natal,
onde fundou a Academia, chamada por alguns de primeira universidade. O lugar
era dedicado ao estudo filosófico, matemático e científico, com o objetivo de
melhorar a vida política nas cidades gregas. Platão presidiu a escola até o fim
da vida. A maior parte de suas obras chegou até nós sob a forma de diálogos
entre Sócrates e uma série de outras pessoas.
Costuma-se dizer que não se sabe quando
Platão fala por ele e quando fala pelo Sócrates histórico. Hoje, de acordo com
vários estudos hermenêuticos, pode-se distinguir onde começa o Sócrates
histórico e onde começa o Platão verdadeiro. Sócrates, por exemplo, não se
preocupava com a metafísica e a epistemologia. Ele estava interessado na ética,
mas não na ética dos valores; ele queria descobrir o método, o método da
refutação, o elencus. A maiêutica, que é fruto da
metafísica e da epistemologia, já pertence a Platão.
Platão é um opositor dos sofistas. Os
sofistas eram professores de retórica. Eles percorriam as cidades para vender o
seu saber, que era o de ensinar a persuadir pela palavra, não importando muito
com o caráter moral da questão. A palavra "sofista" assemelha-se à
palavra "filósofo", pois ambas têm origem na palavra grega sophia,
que significa "sabedoria". O que diferencia um do outro? O sofista é
o "sábio", enquanto o filósofo é "aquele que aspira à
sabedoria". Platão passa a combater os sofistas, porque achava que estes
dificultavam o livre exercício da justiça no regime democrático.
4. FILOSOFIA
4.1. A TEORIA DAS IDEIAS
A teoria das ideias é
a trave mestra da filosofia de Platão. Trata da unicidade de Deus, da
imortalidade da alma e da vida futura. Diz-nos que a alma, antes de reencarnar,
pertence ao mundo das essências e, a ele voltará, após a morte do corpo físico.
As almas impuras poderão transmigrar para um novo corpo, enquanto as puras
permanecem nas essências.
A premissa básica da filosofia de
Platão é a distinção entre a realidade e a ilusão. Essa tese foi lançada em
virtude de ter sido discípulo indireto de Heráclito, que afirmara que todas as
coisas fluem e que, por isso, não é possível entrarmos duas vezes no mesmo rio,
porque tanto nós quanto o rio se modificaram. Para resolver esta questão,
queria achar um ponto fixo, uma forma perfeita e imutável. A "Teoria das
Formas" seria esse mundo imutável, o mundo real. Em contrapartida, o mundo
sensível seria o ilusório. É uma verdadeira inversão do senso comum, que tem
por real o que é sensível.
4.2. MUNDO SENSÍVEL E MUNDO INTELIGÍVEL
Platão distingue dois mundos: o mundo
sensível, no qual nós seres humanos sentimos, temos percepções, adquirimos
um conhecimento particular das coisas e experimentamos que elas são mutáveis; e
o mundo das ideias, um mundo separado, transcendente, uma vez que
as ideias - em grego, eidos -, são de natureza totalmente
diferente da dos objetos sensíveis.
4.3. MITO DA CAVERNA
Para Platão, a tarefa do filósofo é posta em forma
de metáforas, extraídas do Mito da Caverna. A caverna escura é
o nosso mundo; os escravos acorrentados são os homens; as correntes são as
paixões e a ignorância; as imagens ao fundo da caverna são as percepções
sensoriais; a aventura do escravo fora da caverna é a experiência filosófica; o
mundo fora da caverna corresponde ao mundo das ideias, o único,
verdadeiramente; o Sol que ilumina o mundo verdadeiro é a ideia do Bem, que
conduz ao conhecimento; o regresso do escravo é o dever do filósofo de envolver
a sociedade na experiência da verdade; a incapacidade do escravo em
readaptar-se à vida na caverna é a inadequação dos filósofos; o escárnio do
escravo é o destino reservado ao escravo; a morte final do escravo-filósofo é a
morte de Sócrates.
5. PLATÃO E ARISTÓTELES
5.1. CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
A divergência entre Platão e
Aristóteles estava centrada na construção do conhecimento. Platão – idealista –
acreditava que as ideias provinham de um outro mundo, o mundo das essências,
denominado topus uranus. Aristóteles – realista – acreditava
que as ideias provinham das sensações ou do mundo circundante do aqui e do
agora. Aristóteles achava que o ser humano não devia ficar preocupado com a
contemplação do mundo das ideias, mas viver intensamente o momento presente.
5.2. PERCEPÇÃO DO CONHECIMENTO
A percepção do conhecimento implicava
modos diferentes de analisar as questões: Poder-se-ia vê-las pelo lado sensível
ou pela contemplação. Tomemos como exemplo a felicidade. Segundo Platão, a
felicidade diz respeito a uma vida futura, àquilo que o indivíduo poderia
esperar pelo que fez de bom ou de ruim nesta vida; Aristóteles, ao contrário,
achava que a felicidade era o bem supremo do homem, pois todo o ser humano que
alcançasse o fim pelo qual foi criado atingiria esse estado de felicidade.
5.3. APRENDIZAGEM
Sobre a relação ensino-aprendizagem.
Platão achava que o indivíduo já trazia no seu subconsciente o conhecimento
adquirido em outras vidas. Cita Sócrates ensinando matemática ao escravo. As
perguntas de Sócrates faziam desabrochar no escravo o conhecimento que já
possuía dentro de si mesmo. Para Aristóteles, o conhecimento tem que ser
formado no mundo circundante. Ele é como uma tabula rasa que
deve encher a sua memória e o seu intelecto de novos conhecimentos.
6. OS DIÁLOGOS PLATÔNICOS
Os escritos filosóficos de Platão
basearam-se em diálogos e não em tratados. Esses diálogos foram classificados
em três tipos: juventude, maturidade e velhice.
Os diálogos de juventude ou socráticos representam o
questionamento que Sócrates fazia aos sábios da época; nos diálogos de maturidade,
Sócrates não aparece interrogando, mas proferindo afirmações que podem ser do
próprio Platão; nos diálogos de velhice, Sócrates ainda é
personagem, embora nem sempre a principal.
6.1. OS PRIMEIROS DIÁLOGOS
Nos primeiros diálogos, Sócrates tenta
extrair definições de virtudes morais, interrogando os indivíduos quanto a suas
crenças: assim, por exemplo, discute sobre piedade com Eutífron, um
especialista em religião, e sobre coragem com Laques, um general. Ele realiza a
tarefa de forma tão rigorosa e implacável que as seguras afirmações iniciais de
seus interlocutores vão sendo desmanteladas uma por uma, mostrando-se
inconsistentes. Todos, inclusive Sócrates, acabam desnorteados. Aquilo que para
ele podia ser um exercício intelectual gratificante, certamente enlouquecia os
outros.
6.2. OS DIÁLOGOS INTERMEDIÁRIOS
Os diálogos intermediários - entre eles
o Fédon (uma discussão em torno da morte de Sócrates, que
acaba levando a uma conversa sobre imortalidade) e A República (reflexões
sobre a justiça, no que diz respeito ao indivíduo e ao Estado) - exibem uma
abordagem mais positiva, mais construtiva. Neles, Platão esboça várias ideias
importantes: que a alma é imortal; que o conhecimento é uma recordação de uma época
antes de nossa alma imortal ser aprisionada em nosso corpo; que o mundo
material é sombra do mundo espiritual.
6.3. ÚLTIMOS DIÁLOGOS
Os últimos diálogos voltam ao tema das
formas e, em vez disso, investigam mais a fundo os conceitos de conhecimento,
revisitam a República ideal e exploram o mundo natural por meio da física, da
química, da fisiologia e da medicina.
7. CONCLUSÃO
Platão ainda é visto
como o responsável por ter introduzido o argumento filosófico como o conhecemos
hoje, embora a abrangência e a profundidade de seus interesses nunca tenham
sido superadas.
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