PARA ALUNOS DE
FILOSOFI DO 3º ANO ENSINO MÉDIO ESCOLA DIVA HEUGUENEY.
O QUE PODEMOS CONHECER?
Qual o processo do conhecer?
Buscamos discutir esse tema de
forma que nos ajude buscar meios concretos de entender as formas de
conhecimento e sua estrutura dentro dos estudos de Filosofia. Em nossas aulas
vamos nos ater a alguns aspectos aqui tratados.
A realidade é tão complexa que o
homem, para apropriar-se dela, teve de aceitar diferentes tipos de
conhecimento.
Desde a Antiguidade, até os dias
de hoje, um lavrador, mesmo iletrado e/ou desprovido de outros conhecimentos,
sabe o momento certo da semeadura, a época da colheita, tipo de solo adequado
para diferentes culturas. Todos são exemplos do conhecimento que é acumulado
pelo homem, na sua interação com a natureza.
O Conhecimento faz
do ser humano um ser diverso dos demais, na medida em que lhe possibilita fugir
da submissão à natureza. A ação dos animais na natureza é biologicamente
determinada, por mais sofisticadas que possam ser, por exemplo, a casa do
joão-de-barro ou a organização de uma colmeia, isso leva em conta apenas a
sobrevivência da espécie.
O homem atua na natureza não somente
em relação às necessidades de sobrevivência, (ou apenas de forma biologicamente
determinada) mas se dá principalmente pela incorporação de experiências e
conhecimentos produzidos e transmitidos de geração a geração, através da
educação e da cultura, isso permite que a nova geração não volte ao ponto de
partida da que a precedeu. Ao atuar o homem imprime sua marca na natureza,
torna-a humanizada. E à medida que a domina e transforma, também amplia ou
desenvolve suas próprias necessidades. Um dos melhores exemplos desta atuação
são as cidades.
O Conhecimento
só é perceptível através da existência de três elementos: o sujeito cognoscente
(que conhece) o objeto (conhecido) e a imagem. O sujeito é quem irá deter o
conhecimento o objeto é aquilo que será conhecido, e a imagem é a interpretação
do objeto pelo sujeito. Neste momento, o sujeito apropria-se, de certo modo do
objeto. “O conhecimento apresenta-se como uma transferência das propriedades do
objeto para o sujeito”. (Ruiz, João. Metodologia científica).
O conhecimento leva o homem a
apropriar-se da realidade e, ao mesmo tempo a penetrar nela, essa posse
confere-nos a grande vantagem de nos tornar mais aptos para a ação consciente.
A ignorância tolhe as possibilidades de avanço para melhor, mantém-nos prisioneiros
das circunstâncias. O conhecimento tem o poder de transformar a opacidade da
realidade em caminho iluminada, de tal forma que nos permite agir com certeza,
segurança e precisão, com menos riscos e menos perigos.
Mas a realidade não se deixa revelar
facilmente. Ela é constituída de numerosos níveis e estruturas, de um mesmo
objeto podemos obter conhecimento da realidade em diversos níveis distintos.
Utilizando-se do exemplo de Cervo & Bervian no livro Metodologia
Científica, “com relação ao homem”, pode-se considerá-lo em seu aspecto eterno
e aparente e dizer uma série de coisas que o bom senso dita ou a experiência
cotidiana ensinou; pode-se, também, estudá-lo com espírito mais sério,
investigando experimentalmente as relações existentes entre certos órgãos e
suas funções; pode-se, ainda, questioná-lo quanto à sua origem, sua realidade e
destino e, finalmente, investigar o que dele foi dito por Deus através dos
profetas e de seu Enviado
Jesus Cristo.
Em outras palavras, a realidade é
tão complexa que o homem, para apropriar-se dela, teve de aceitar diferentes
tipos de conhecimento.
Tem-se, então, os diferentes
tipos de conhecimento:
- Conhecimento Empírico.
- Conhecimento Científico.
- Conhecimento Filosófico.
- Conhecimento Teológico.
Conhecimento Empírico
Popular ou vulgar é o modo comum,
corrente e espontâneo de conhecer, que se adquire no trato direto com as coisas
e os seres humanos, as informações são assimiladas por tradição, experiências
causais, ingênuas, é caracterizado pela aceitação passiva, sendo mais sujeito
ao erro nas deduções e prognósticos. “É o saber que preenche nossa vida diária
e que se possui sem o haver procurado, sem aplicação de método e sem se haver
refletido sobre algo” (Babini, 1957:21). O homem, ciente de suas ações e do seu
contexto, apropria-se de experiências próprias e alheias acumuladas no decorrer
do tempo, obtendo conclusões sobre a “razão de ser das coisas”. É, portanto
superficial, sensitivo, subjetivo, Assis temático e acrítico.
Conhecimento Científico
O conhecimento científico vai
além da visão empírica, preocupa-se não só com os efeitos, mas principalmente
com as causas e leis que o motivaram, esta nova percepção do conhecimento se
deu de forma lenta e gradual, evoluindo de um conceito que era entendido como
um sistema de proposições rigorosamente demonstradas e imutáveis, para um
processo contínuo de construção, onde não existe o pronto e o definitivo, “é
uma busca constante de explicações e soluções e a reavaliação de seus
resultados”. Este conceito ganhou força a partir do século XVI com Copérnico,
Bacon,
Galileu,
Descartes e outros.
No seu conceito teórico, é
tratado como um saber ordenado e lógico que possibilita a formação de ideias,
num processo complexo de pesquisa, análise e síntese, de maneira que as
afirmações que não podem ser comprovadas são descartadas do âmbito da ciência. Este
conhecimento é privilégio de especialistas das diversas áreas das ciências.
Conhecimento Filosófico
É o conhecimento que se baseia no
filosofar, na interrogação como instrumento para decifrar elementos
imperceptíveis aos sentidos, é uma busca partindo do material para o universal,
exige um método racional, diferente do método experimental (científico),
levando em conta os diferentes objetos de estudo.
Emergente da experiência, “suas
hipóteses assim como seus postulados, não poderão ser submetidos ao decisivo
teste da observação”. O objeto de análise da filosofia são ideias, relações
conceptuais, exigências lógicas que não são redutíveis a realidades materiais
e, por essa razão, não são passíveis de observação sensorial direta ou indireta
(por instrumentos), como a que é exigida pelo conhecimento científico. Hoje, os
filósofos, além das questões metafísicas tradicionais, formulam novas questões:
A máquina substituirá quase totalmente o homem? A clonagem humana será uma
prática aceita universalmente? O conhecimento tecnológico é um benefício para o
homem? Quando chegará a vez do combate à fome e à miséria? Etc.
Conhecimento Teológico
Conhecimento adquirido a partir
da aceitação de axiomas da fé teológica, é fruto da revelação da divindade, por
meio de indivíduos inspirados que apresentam respostas aos mistérios que
permeiam a mente humana, “pode ser dados da vida futura, da natureza e da
existência do absoluto”.
“A incumbência do Teólogo é
provar a existência de Deus e que os textos Bíblicos foram escritos mediante
inspiração Divina, devendo por isso ser realmente aceitos como verdades
absolutas e incontestáveis.” Hoje diferentemente do passado histórico, a
ciência não se permite ser subjugada a influências de doutrinas da fé: e quem
está procurando rever seus dogmas e reformulá-los para não se opor a mentalidade
científica do homem contemporâneo é a Teologia”. (João Ruiz) Isso, porém é
discutível, pois não há nada mais perfeito que a harmonia e o equilíbrio do
UNIVERSO, que de qualquer modo está no conhecimento da humanidade, embora esta
não tenham mãos que possa apalpá-lo ou olhos que possam divisar seu horizonte
infinito… A fé não é cega baseia-se em experiências espirituais, históricas,
arqueológicas e coletivas que lhes dá sustentação. O conhecimento pode Ter
função de libertação ou de opressão. O conhecimento pode ser libertador não só
de indivíduos como de grupos humanos. Nos dias atuais, a detenção do
conhecimento é um tipo de poder disputado entre as nações. Contudo o
conhecimento pode ser usado como mecanismo de opressão. Quantas pessoas e
nações se utilizam do conhecimento que detêm para oprimir?
Para discutir estas questões
recém citadas, vê-se a necessidade de instituirmos um novo paradigma para
discussão do conhecimento, o conhecimento moderno, entende-se por conhecimento
moderno, a discussão em torno do conhecimento. É a capacidade de questionar,
avaliar parâmetros de toda a história e reconstruir, inovar e intervir. É
válido, que além de discutir os paradigmas do conhecimento, é necessário
avaliar o problema específico do questionamento científico, fonte imorredoura
da inovação, tornada hoje obsessiva. No entanto, a competência inovadora sem
precedentes, pode estar muito mais a serviço da exclusão, do que da cidadania
solidária e da emancipação humana. O fato de o mercado neoliberal estar se
dando muito bem com o conhecimento, tem afastado a escola e a universidade das
coisas concretas da vida.
O questionamento sempre foi à
alavanca crucial do conhecimento, sendo que para mudar alguma coisa é
imprescindível desfazê-la em parte ou, com parâmetros, desfazê-la totalmente. A
lógica do questionar leva a uma coerência temerária de a tudo desfazer para
inovar. Como exemplo a informática, onde cada computador novo é feito para ser
jogado fora, literalmente morre de véspera e não sendo possível imaginar um computador
final, eterno. E é neste foco que se nos apegarmos a estagnação, também iremos
para o lixo. Podemos então afirmar a reconstrução provisória dentro do ponto de
vista desconstrutivo, pois tudo que existe hoje será objeto de questionamento,
e quem sabe mudanças. O questionamento é assim passível de ser questionado,
quando cria um ambiente desfavorável ao homem e à natureza.
É importante conciliarmos o
conhecimento com outras virtudes essenciais para o saber humano, como a
sensibilidade popular, bom senso, sabedoria, experiência de vida, ética etc.
Conhecer é comunicar-se, interagir com diferentes perspectivas e modos de
compreensão, inovando e modificando a realidade.
A relação entre conhecimento e
democracia, modernamente, caracteriza-se como uma relação intrínseca, o poder
do conhecimento se impõe através de várias formas de dominação: econômica,
política, social etc. A diferença entre pobres e ricos, é determinada pelo fato
de se deter ou não conhecimento, já que o acesso à renda define as chances das
pessoas e sociedades, cada vez mais, estas chances serão definidas pelo acesso
ao conhecimento. Convencionou-se que em liderança política é indispensável
nível superior. E no topo da pirâmide social encontramos o conhecimento como o
fator diferencial.
É inimaginável o progresso
técnico que o conhecimento pode nos proporcionar, como é facilmente imaginável
o risco da destruição total. Para equalizar esta distorção, o preço maior é a
dificuldade de arrumar a felicidade que, parceira da sabedoria e do bom senso é
muitas vezes desestabilizada pela soberba do conhecimento.
De forma geral podemos dizer que
o conhecimento é o distintivo principal do ser humano, são virtude e método
central de análise e intervenção da realidade. Também é ideologia com base
científica a serviço da elite e/ ou da corporação dos cientistas, quando isenta
de valores. E finalmente pode ser a perversidade do ser humano, quando é feito
e usado para fins de destruição.
Teoria do Conhecimento
A teoria do conhecimento tem por
objetivo buscar a origem, a natureza, o valor e os limites do conhecimento, da
faculdade de conhecer. Às vezes o termo é usado ainda como sinônimo de
epistemologia, o que não é exato, pois a mesma é mais ampla, abrangendo todo
tipo de conhecimento, enquanto que a epistemologia limita-se ao estudo
sistemático do conhecimento científico, sendo por isso mesmo chamada de
filosofia da ciência.
A necessidade de procurar
explicar o mundo dando-lhe um sentido e descobrindo lhe as leis ocultas é tão
antiga como o próprio Homem, que tem recorrido para isso quer ao auxílio da
magia, do mito e da religião, quer, mais recentemente, à contribuição da
ciência e da tecnologia.
Mas é sobretudo nos últimos
séculos da nossa História, que se tem dado a importância crescente aos domínios
do conhecimento e da ciência. E se é certo
que a preocupação com este tipo de questões remonta já à Grécia antiga, é porém
a partir do séc. XVIII que a palavra ciência adquire um sentido mais preciso e
mais próximo daquele que hoje lhe damos.
É também sobretudo a partir desta
época que as implicações da atividade científica na nossa vida quotidiana se
têm tornado tão evidentes, que não lhe podemos ficar indiferentes. O que é conhecimento,
como se adquire, o que temos implícito quando dizemos que conhecemos
determinado assunto, em que consiste a prática científica, que relação existe
entre o conhecimento científico e o mundo real, quais as consequências práticas
e éticas das descobertas científicas, são alguns dos problemas com que nos
deparamos frequentemente.
Diante desses questionamentos,
este trabalho pretende fazer um apanhado geral acerca da Teoria do
Conhecimento, suas correntes e representantes, de modo que se torne mais fácil
a sua compreensão.
Conceito
A teoria do conhecimento,
se interessa pela investigação da natureza, fontes e validade do conhecimento.
Entre as questões principais que ela tenta responder estão as seguintes. O que
é o conhecimento? Como nós o alcançamos? Podemos conseguir meios para
defendê-lo contra o desafio cético?
Essas questões são,
implicitamente, tão velhas quanto a filosofia. Mas, primordialmente na era
moderna, a partir do século XVII em diante – como resultado do trabalho de
Descartes (1596-1650) e
Jonh Locke (1632-1704)
em associação com a emergência da ciência moderna – é que ela tem ocupado um
plano central na filosofia.
Basicamente é conceituada como o
estudo de assuntos que outras ciências não conseguem responder e se divide em
quatro partes, sendo que três delas possuem correntes que tentam explica-las: I
– O conhecimento como problema, II – Origem do Conhecimento e III – Essência do
Conhecimento e IV – Possibilidade do Conhecimento.
Empirismo
“O empirismo pode ser definido
como a asserção de que todo conhecimento sintético é baseado na experiência.”
(Bertrand Russell).
Conceitua-se empirismo, como a
corrente de pensamento que sustenta que a experiência sensorial é a origem
única ou fundamental do conhecimento.
Originário da Grécia Antiga, o
empirismo foi reformulado através do tempo na
Idade Média e Moderna, assumindo várias
manifestações e atitudes, tornando-se notável as distinções e divergências existentes.
Porém, é notório que existem características fundamentais, sem as quais se
perde a essência do empirismo e a qual, todos os autores conservam, que é a
tese de que todo e qualquer conhecimento sintético haure sua origem na
experiência e só é válido quando verificado por fatos metodicamente observados,
ou se reduz a verdades já fundadas no processo de pesquisa dos dados do real,
embora, sua validade lógica possa transcender o plano dos fatos observados.
Como já foi dito anteriormente,
existe no empirismo divergência de pensamentos, e é exatamente esse aspecto que
abordaremos a seguir. São três, as linhas empíricas, sendo elas: a integral, a
moderada e a científica.
O empirismo integral reduz todos
os conhecimentos – inclusive os matemáticos – à fonte empírica, àquilo que é
produto de contato direto e imediato com a experiência. Quando a redução é
feita à mera experiência sensível, temos o sensismo (ou sensualismo). É o caso
de John Stuart Mill, que na obra Sistema da Lógica diz que todos os
conhecimentos científicos resultam de processos indutivos, não constituindo
exceção as verdades matemáticas, que seriam resultado de generalizações a
partir de dados da experiência. Ele apresenta a indução como único método
científico e afirma que nela resolvem-se tanto o silogismo quanto os axiomas
matemáticos.
Racionalismo
É a corrente que assevera o papel
preponderante da razão no processo cognoscitivo, pois, os fatos não são fontes
de todos os conhecimentos e não nos oferecem condições de “certeza”.
Um dos grandes representantes do
racionalismo, Gottfried Leibniz, afirma em sua obra Novos Ensaios sobre o
Entendimento Humano, que nem todas as verdades são verdades de fato; ao lado
delas, existem as verdades de razão, que são aquelas inerentes ao próprio
pensamento humano e dotadas de universalidade e certeza (como por exemplo, os
princípios de identidade e de razão suficiente), enquanto as verdades de fato
são contingentes e particulares, implicando sempre a possibilidade de correção,
sendo válidas dentro de limites determinados.
Ainda retratando o pensamento
racionalista, encontramos Reneé Descartes, adepto do inatismo, que afirma que
somos todos possuidores, enquanto seres pensantes, de uma série de princípios
evidentes, ideias inatas, que servem de fundamento lógico a todos os elementos
com que nos enriquecem a percepção e a representação, ou seja, para ele, o
racionalismo se preocupa com a ideia fundante que a razão por si mesma logra
atingir.
Esses dois pensadores podem ser
classificados como representantes do racionalismo ontológico, que consiste em
entender a realidade como racional, ou em racionalizar o real, de maneira que a
explicação conceitual mais simples, se tenha em conta da mais simples e segura
explicação da realidade.
Existe também uma outra linha
racionalista, originada de Aristóteles, denominada intelectualismo, que
reconhece a existência de “verdades de razão” e, além disso, atribui à
inteligência função positiva no ato de conhecer, ou seja, a razão não contém em
si mesma, verdades universais como ideias inatas, mas as atinge à vista dos
fatos particulares que o intelecto coordena. Concluindo: o intelecto extrai os
conceitos ínsitos no real, operando sobre as imagens que o real oferece.
Hessen, um dos adeptos do
intelectualismo, lembra que há nele uma concepção metafísica da realidade como
condição de sua gnoseologia, que é conceber a realidade como algo de racional,
contendo no particularismo contingente de seus elementos, as verdades
universais que o intelecto “lê” e “extrai”, realizando-se uma adequação plena
entre o entendimento e a realidade, no que esta tem de essencial.
Por fim, devemos citar uma
ramificação do racionalismo que alguns autores consideram autônoma, que é o
Criticismo.
O criticismo é o estudo metódico
prévio do ato de conhecer e dos modos de conhecimento, ou seja, uma disposição
metódica do espírito no sentido de situar, preliminarmente o problema do
conhecimento em função da relação “sujeito-objeto”, indagando as suas condições
e pressupostos. Ele aceita e recusa certas afirmações do empirismo e
racionalismo, por isso, muitos autores acreditam em sua autonomia. Entretanto,
devemos entender tal posição como uma análise crítica e profunda dos
pressupostos do conhecimento.
Seu maior representante, Immanuel
Kant, tem como marca a determinação a priori das condições lógicas das
ciências. Ele declara que o conhecimento não pode prescindir da experiência, a
qual fornece o material cognoscível e nesse ponto coincide com o empirismo.
Porém, sustenta também que o conhecimento de base empírica não pode prescindir
de elementos racionais, tanto que só adquire validade universal quando os dados
sensoriais são ordenados pela razão. Segundo palavras do próprio autor, “os
conceitos sem as intuições são vazios; as intuições sem os conceitos são
cegas”.
Para ele, o conhecimento é sempre
uma subordinação do real à medida do humano.
Conclui-se então, que pela ótica
do criticismo, o conhecimento implica sempre numa contribuição positiva e
construtora por parte do sujeito cognoscente em razão de algo que está no
espírito, anteriormente à experiência do ponto de vista gnosiológico.
B) O Conhecimento Quanto à
Essência
Nessa parte do estudo,
analisaremos o ponto da Teoria do Conhecimento em que há mais divergências,
sendo estas fundamentais pra o pleno conhecimento do assunto, que é o realismo
e o idealismo.
• Realismo
Sabendo que a palavra realismo
vem do latim res (coisa), podemos conceituar essa corrente como a orientação ou
atitude espiritual que implica uma preeminência do objeto, dada a sua afirmação
fundamental de que nós conhecemos coisas. Em outras palavras, é a independência
ontológica da realidade, ou seja, o sujeito em função do objeto.
O realismo é subdividido em três
espécies. O realismo ingênuo, o tradicional e o crítico.
O realismo ingênuo, também
conhecido como pré-filosófico, é aquele em que o homem aceita a identidade de
seu conhecimento com as coisas que sua mente menciona, sem formular qualquer
questionamento a respeito de tal coisa. É a atitude do homem comum, que conhece
as coisas e as concebem tais e quais aparecem.
Já o realismo tradicional é
aquele em que há uma indagação a respeito dos fundamentos, há uma procura em
demonstrar se as teses são verdadeiras, surgindo uma atitude propriamente
filosófica, seguindo a linha aristotélica.
Por último, podemos citar o
realismo cientifico, que é a linha do realismo que acentua a verificação de
seus pressupostos concluindo pela funcionalidade sujeito-objeto e distinguindo
as camadas conhecíveis do real como a participação – não apenas criadora – do
espírito no processo gnosiológico. Para os seguidores desse pensamento,
conhecer é sempre conhecer algo posto fora de nós, mas que, se há conhecimento
de algo, não nos é possível verificar se o objeto – que nossa subjetividade
compreende – corresponde ou não ao objeto tal qual é em si mesmo.
Há portanto, no realismo, uma
tese ou doutrina fundamental de que existe uma correlação ou uma adequação da
inteligência a “algo” como objeto do conhecimento, de maneira que nós
conhecemos quando a nossa sensibilidade e inteligência se conformam a algo de
exterior a nós. De acordo com o modo de compreender-se essa “referibilidade a
algo”, bifurca-se o realismo em tradicional e o crítico, que são as duas linhas
pertinentes à filosofia.
• Idealismo
Surgiu na Grécia Antiga com
Platão, denominado de idealismo transcendente, onde as ideais ou arquétipos
ideais representam a realidade verdadeira, da qual seriam as realidades
sensíveis, meras copias imperfeitas, sem validade em si mesmas, mas sim
enquanto participam do ser essencial. O idealismo de Platão reduz o real ao
ideal, resolvendo o ser em ideias, pois como ele já dizia, as ideias são o sol
que ilumina e torna visíveis as coisas.
Alguns autores entendem que a
doutrina platônica poderia ser vista como uma forma de realismo, pois para
eles, o idealismo “verdadeiro” é aquele desenvolvido a partir de Descartes.
O que interessa à Teoria do
Conhecimento, é o idealismo imanentista, que afirma que as coisas não existem
por si mesmas, mas na medida e enquanto são representadas ou pensadas, de
maneira que só se conhece aquilo que se insere no domínio de nosso espírito e
não as coisas como tais, ou seja, há uma tendência a subordinar tudo à formas
espirituais ou esquemas. No idealismo, que é a compreensão do real como
idealidade (o que equivale dizer a realidade como espírito), o homem cria um
objeto com os elementos de sua subjetividade, sem que algo preexista ao objeto
(no sentindo gnosiológico).
Sintetizando, o idealismo é a
doutrina ou corrente de pensamento que subordina ou reduz o conhecimento à
representação ou ao processo do pensamento mesmo, por entender que a verdade
das coisas está menos nelas do que em nós, em nossa consciência ou em nossa
mente, no fato de serem “percebidas” ou “pensadas”.
Dentro dessa concepção existem
duas orientações idealistas. Uma é a do idealismo psicológico ou
conscienciológico, onde o que se conhece não são as coisas e sim a imagem
delas. Podemos conceituá-lo como aquele em que a realidade é cognoscível se e
enquanto se projeta no plano da consciência, revelando-se como momento ou
conteúdo de nossa vida interior. Também chamado de idealismo subjetivo, este
diz que o homem não conhece as coisas, e sim a representação que a nossa
consciência forma em razão delas. Seus representantes são Hume, Locke e
Berkeley.
A outra é a orientação idealista
de natureza lógica, que parte da afirmação de que só conhecemos o que se
converte em pensamento, ou é conteúdo de pensamento. Ou seja, o ser não é outra
coisa senão ideia.
Seu maior representante, Hegel,
diz em uma de suas obras que nós só conhecemos aquilo que elevamos ao plano do
pensamento, de maneira que só há realidade como realidade espiritual.
Resumindo: na atitude
psicológica, ser é ser percebido e na atitude lógica, ser é ser pensado.
C) Possibilidade do
Conhecimento
Essa parte da teoria do
conhecimento é responsável por solucionar a seguinte questão: qual a
possibilidade do conhecimento?
Para que seja possível
respondê-la, muitos autores recorrem a duas importantes posições: o dogmatismo
e o ceticismo, os quais veremos abaixo.
• Dogmatismo
É a corrente que se julga em
condições de afirmar a possibilidade de conhecer verdades universais quanto ao
ser, à existência e à conduta, transcendendo o campo das puras relações
fenomenais e sem limites impostos a priori à razão.
Existem duas espécies de
dogmatismo: o total e o parcial.
O primeiro é aquele em que a
afirmação da possibilidade de se alcançar a verdade última é feita tanto no
plano da especulação, quanto no da vida pratica ou da Ética. Esse dogmatismo
intransigente, quase não é adotado, devido à rigorosidade de adequação do
pensamento. Porém, encontramos em Hegel a expressão máxima desse tipo de
dogmatismo, pois, existe em suas obras uma identificação absoluta entre
pensamento e realidade. Como o próprio autor diz “o pensamento, na medida em que
é, é a coisa em si, e a coisa em si, na medida em que é, é o pensamento puro”.
Já o parcial, adotado em maior
extensão, tem um sentido mais atenuado, na intenção de afirmar-se a
possibilidade de se atingir o absoluto em dadas circunstâncias e modos quando
não sob certo prisma. Ou seja, é a crença no poder da razão ou da intuição como
instrumentos de acesso ao real em si.
Alguns dogmáticos parciais se
julgam aptos para afirmar a verdade absoluta no plano da ação. Entretanto,
outros somente admitem tais verdades no plano especulativo. Daí origina-se a
distinção entre dogmatismo teórico e dogmatismo ético.
O dogmatismo ético tem como
adeptos Hume e Kant, que duvidavam da possibilidade de atingir as verdades
últimas enquanto sujeito pensante (homo theoreticus) e afirmavam as razões
primordiais de agir, estabelecendo as bases de sua Ética ou de sua Moral.
Por conseguinte, temos como
adepto do dogmatismo teórico, Blaise Pascal, que não duvidava de seus cálculos
matemáticos e da exatidão das ciências enquanto ciências, mas era assaltado por
duvidas no plano do agir ou da conduta humana.
• Ceticismo
Consiste numa atitude dubitativa
ou uma provisoriedade constante, mesmo a respeito de opiniões emitidas no
âmbito das relações empíricas. Essa atitude nunca é abandonada pelo ceticismo,
mesmo quando são enunciados juízos sobre algo de maneira provisória, sujeitos a
refutação à luz de sucessivos testes.
Ou seja, o ceticismo se distingue
das outras correntes por causa de sua posição de reserva e de desconfiança em
relação às coisas.
Há no ceticismo – assim como no
dogmatismo – uma distinção entre absoluto e parcial, ressaltando que este
último não será discutido nesse trabalho.
O ceticismo absoluto é oriundo da
Grécia e também denominado pirronismo. Prega a necessidade da suspensão do
juízo, dada a impossibilidade de qualquer conhecimento certo. Ele envolve tanto
as verdades metafísicas (da realidade em si mesma), quanto as relativas ao
fundo dos fenômenos. Segundo essa corrente, o homem não pode pretender nenhum
conhecimento por não haver adequação possível entre o sujeito cognoscente e o
objeto conhecido. Ou seja, para os céticos absolutos, não há outra solução para
o homem senão a atitude de não formular problemas, dada a equivalência fatal de
todas as respostas.
Um dos representantes do
ceticismo de maior destaque na filosofia moderna é Augusto Comte.
Resumo dos principais
problemas da Teoria do Conhecimento
- A questão do conhecimento: Para
compreender a si mesmo e o mundo os homens querem entender a sua própria
capacidade de entender.
- Sujeito e objeto: Os dois elementos do
processo de conhecimento – Conhecer é representar cuidadosamente o que é
exterior à mente. Para que exista conhecimento, sempre será necessária a
relação entre dois elementos básicos: Um sujeito conhecedor (nossa
consciência, nossa mente) e um objeto conhecido (a realidade, o mundo, os
inúmeros fenômenos).
- As possibilidades do conhecimento: O
ceticismo prega a impossibilidade de conhecermos a verdade. O dogmatismo
defende a possibilidade de conhecermos a verdade.
- Ceticismo absoluto: Tudo é ilusório e
passageiro. Consiste em negar de forma total nossa possibilidade de
conhecer a verdade. Assim, o homem nada pode afirmar, pois nada pode
conhecer. Ao dizer que nada é verdadeiro, o ceticismo absoluto anula a si
próprio, pois diz que nada é verdadeiro, mas acaba afirmando que pelo
menos existe algo de verdadeiro.
- O ceticismo relativo: Nega apenas
parcialmente nossa capacidade de conhecer a verdade.
- Dogmatismo: É uma doutrina que defende
a possibilidade de conhecermos a verdade. Dogmatismo ingênuo: Consiste em
acreditar plenamente nas possibilidades do nosso conhecimento.
- Dogmatismo crítico: Acredita em nossa
capacidade de conhecer a verdade mediante um esforço conjugado de nossos
sentidos e nossa inteligência.
- Empirismo: Defende que todas as nossas ideias
são provenientes de nossas percepções sensoriais (visão, audição, tato, olfato e paladar).
- Racionalismo crítico e materialismo dialético: A
experiência e o trabalho da razão depositam total e exclusiva confiança na
razão humana como instrumento capaz de conhecer a verdade.
Se há conhecimento humano, existe
a verdade, porque esta nada mais é do que a adequação da inteligência com a
coisa. Com a experiência da verdade, há consequentemente a
existência da certeza, que é passar a inteligência à verdade conhecida. A
inteligência humana tende a fixar-se na verdade conhecida. Metodologicamente,
há primeiro o conhecimento, depois a verdade, e finalmente a certeza. Tal
tomada de posição perante o primeiro problema da crítica é chamado dogmatismo.
Sendo defendida por filósofos realistas, como por exemplo: Aristóteles e Tomás
de Aquino.
Se, ao contrário, se sustentar
que a inteligência permanece, em tudo e sempre, sem nada afirmar e sem nada
negar, sem admitir nenhuma verdade e nenhuma certeza, sendo a dúvida universal
e permanente o resultado normal da inteligência humana, está se defendendo o
ceticismo.
O problema crítico representa um
passo além do dogmatismo e do ceticismo. Uma vez que admite-se a existência da
verdade (valor do conhecimento), e da certeza, pergunta-se então: Onde estão as
coisas: Só na inteligência? Só na matéria? No intelecto humano e na matéria? Ou
só na razão? (Como dizem os grandes filósofos – idealistas, racionalistas e
realistas).
Para o idealismo o ente
transcendental compõe-se somente de ideias. Para o materialismo, somente
matéria. Para o realismo, ideias e matéria. Para o racionalismo, é razão. A
crítica é a base necessária de todo o saber cientifico e filosófico, inclusive
da própria ontologia.